TÓPICO ESPECIAL: PAZ E GUERRA
I. Introdução
A. A Bíblia, nossa única fonte de fé e prática, não tem nenhuma passagem
definitiva sobre paz (veja o Tópico Especial: Paz [AT] e Tópico Especial: Paz
[NT]). De fato, é paradoxal na sua apresentação. O AT pode ser aludido como uma
abordagem para a paz que é militarista. O NT, no entanto, coloca o conflito em
termos espirituais de luz e trevas (Ef. 2.2; 6.10-17).
B. A fé bíblica, assim como as religiões mundiais do passado e presente,
buscou e ainda espera uma era áurea de prosperidade que não existe conflito.
1. Isaías 2.2-4; 11.6-9; 32.15-18; 51.3; Oséias 2.18; Miquéias 4.3
2. A fé bíblica profetiza a agência pessoal do Messias, Is 9.6, 7
C. No entanto, como nós vivemos num mundo de conflito? Há três respostas
cristãs básicas que se desenvolveram cronologicamente entre a morte dos
Apóstolos e a Idade Média.
1. Pacifismo, embora raro na antiguidade, era a resposta da igreja
primitiva para a sociedade militar romana.
2. Só guerra, depois da conversão de Constantino (314 A.D.) a igreja
começou a racionalizar o apoio militar de um "estado cristão” em resposta
às sucessivas invasões bárbaras. Esta era basicamente a posição grega clássica.
Esta posição foi primeiro articulada por Ambrósio e expandida por Agostinho.
3. Cruzada, isto é similar ao conceito de Guerra Santa do AT.
Desenvolveu-se na Idade Média em resposta aos avanços mulçumanos na "Terra
Santa” e antigos territórios cristãos tais como o Norte da África, Ásia Menos e
Império Romano do Oriente. Não era em favor do estado, mas em favor da Igreja e
sob os seus auspícios.
4. Todas as três visões se desenvolveram num contexto cristão com visões
discordantes sobre como os cristãos deveriam se relacionar com um sistema
mundial caído. Cada uma enfatizava certos textos bíblicos para a exclusão de
outros. O pacifismo tende a se separar do mundo. A resposta da "Guerra
Justa” tem defendido o poder do estado para controlar um mundo mal (Martinho
Lutero). A posição da Cruzada tem defendido que a Igreja ataque o mundo caído
para controlá-lo.
5. Roland H. Bainton, no seu livro Christian Attitudes Toward War and
Peace [Atitudes Cristãs em Relação à Guerra e Paz], publicado por Abingdon,
página 15, diz: "A Reforma precipitou guerras de religião, em que as três
posições histórica reapareceram: a guerra justa entre os luteranos e os
anglicanos, a cruzada nas Igrejas Reformadas, e o pacifismo entre os
anabatistas e depois os Quakers. O século dezoito na teoria e na prática
ressuscitou os ideais da paz humanista da Renascença. O século dezenove foi uma
era de comparativa paz e grande agitação pela eliminação da guerra. O século
vinte viu duas guerras mundiais. Nesse período também novamente as três
posições históricas repetiram-se. As igrejas nos Estados Unidos particularmente
tomaram uma atitude de cruzada para com a Primeira Guerra Mundial; o pacifismo
foi predominante entre as duas guerras; o ambiente da Segunda Guerra aproximou
daquele do guerra justa”.
D. A definição exata de "paz” tem sido disputada.
1. Para os gregos parece referir-se a uma sociedade de ordem e
coerência.
2. Para os romanos era uma ausência de conflito provocado através do
poder do estado.
3. Para os hebreus paz era uma dádiva de YHWH baseada na resposta
apropriada a Ele. Era geralmente posta em termos agrícolas (cf. Lv. 26; Dt
27-28). Não só prosperidade, mas segurança e proteção divina são incluídas.
II. Material Bíblico
A. Antigo Testamento
1. Guerra Santa é um conceito básico do AT. A frase "não matarás”
de Êx 20.13 e Dt 5.17 em hebraico refere-se ao assassinato premeditado (BDB
953; veja Tópico Especial: Assassinato), não morte por acidente ou paixão ou
guerra. YHWH é até visto como um guerreiro em favor do Seu povo (cf. Josué –
Juízes e Is. 59.17, aludido em Ef. 6.14)
2. Deus até usa a guerra como um meio de punir Seu povo desobediente –
Assíria exila Israel (722 a.C.); Neo-Babilônia exila Judá (586 a.C.).
3. É chocante, numa atmosfera tão militarista, ler sobre o "servo
sofredor” de Isaías 53, que pode ser classificado como pacifismo redentivo.
B. Novo Testamento
1. Nos Evangelhos soldados são mencionados sem condenação. Os
"centuriões romanos” são mencionados freqüentemente e quase sempre num
sentido nobre.
2. Até os soldados crentes não são ordenados a deixar sua vocação
(igreja primitiva).
3. O Novo Testamento não defende uma resposta detalhada aos males
sociais em termos de teoria ou ação social, mas em redenção espiritual. O foco
não está nas batalhas físicas, mas na batalha espiritual entre a luz e as
trevas, bem e mal, amor e ódio, Deus e Satanás (Ef. 6.10-17).
4. Paz é uma atitude do coração em meio aos problemas do mundo. Está
relacionada exclusivamente com nosso relacionamento com Cristo (Rm 5.1; João
14.27), não com o estado. Os pacificadores de Mt 5.9 não são políticos, mas
proclamadores do evangelho! Comunhão, não conflito, deveria caracterizar a vida
da igreja, não para si mesma como para um mundo perdido.
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