TÓPICO ESPECIAL: O SINÉDRIO

I. Fontes de Informação

A. O Novo Testamento

B. Antiguidades dos Judeus de Flavio Josefo

C. A seção Mishná do Talmude (i.e., Tratado "Sinédrio")

Infelizmente o NT e Josefo não concordam com os escritos rabínicos, que parecem afirmar dois Sinédrios em Jerusalém, um sacerdotal (i.e., saduceu), controlado pelo Sumo Sacerdote e lidando com a justiça civil e criminal e um segundo controlado pelos fariseus e escribas, preocupado com as questões religiosa e tradicional. No entanto, os escritos rabínicos datam de 200 A.D. e refletem situações da cultura depois da queda de Jerusalém para o general romano, Tito, em 70 A.D. Os Judeus (isto é, liderança fariseia) restabelecem sua vida religiosa numa cidade chamada Jâmnia e mais tarde (118 A.D.) mudaram-se para a Galiléia.

II. Terminologia

O problema com a identificação desse corpo judicial envolve os diferentes nomes pelos quais é conhecido. Há várias palavras usadas para descrever corpos judiciais dentro da comunidade judaica de Jerusalém.

A. Gerousia – "senado" ou "conselho". Esse é o termo mais antigo que era usado perto do fim do período persa (cf. Antiguidades 12.3.3 de Josefo e II Macabeus 11.27). É usado por Lucas em Atos 5.21 junto com o termo "Sinédrio". Pode ter sido uma maneira de explicar o termo para os leitores que falavam grego (cf. I Mac 12.35).

B. Synedrion – "Sinédrio". Isto é uma composição de syn (junto com) e hedra (assento). Surpreendentemente esse termo é usado em aramaico, mas ele reflete uma palavra grega. Até o fim do período macabeu isso tinha se tornado o termo aceito para designar a suprema corte dos judeus em Jerusalém (cf. Mt 26.59; Marcos 15.1; Lucas 22.66; João 11.47; Atos 5.27). O problema surge quando a mesma terminologia é usada para os concílios judiciais locais fora de Jerusalém (cf. Mt 5.22; 10.17).

C. Presbyterion – "conselho de anciãos" (cf. Lucas 22.66). Isto é uma designação do AT para os líderes tribais. No entanto, veio a referir-se à suprema corte em Jerusalém (cf. Atos 22.5).

D. Boulē – Este termo "conselho" é usado por Josefo (i.e., Guerras 2.16.2; 5.4.2, mas não o NT) para descrever vários corpos judiciais:

1. o Senado em Roma;

2. cortes romanas locais;

3. a suprema corte judaica em Jerusalém;

4. cortes judaicas locais.

José de Arimatéia é descrito como um membro do Sinédrio por uma forma desse termo (i.e., bouleutēs, que significa "conselheiro", cf. Marcos 15.43; Lucas 23.50).

III. Desenvolvimento histórico

Originalmente diz-se que Esdras estabeleceu a Grande Sinagoga (cf. Targum sobre o Cantares 6.1) no período pós-exílico, quando parece ter começado o Sinédrio do tempo de Jesus.

A. A Mishná (i.e., Talmude) registra que havia duas cortes principais em Jerusalém (cf. Sin. 7.1).

1. Uma constituída de 70 (ou 71) membros (Sand. 1.6 ainda afirma que Moisés estabeleceu o primeiro Sinédrio em Nm 11, cf. Nm 11.16-25).

2. Uma constituída de 23 membros (mas isso pode se referir às cortes das sinagogas locais).

3. Alguns estudiosos judeus acreditam que havia três Sinédrios de 23 membros em Jerusalém. Quando os três se reuniam, eles, juntamente com os dois líderes, constituíam "o Grande Sinédrio" de 71 membros (i.e., Nasi e Av Bet Din).

a. um sacerdotal (i.e., saduceus)

b. um legal (i.e., fariseus)

c. um aristocrático (i.e., anciãos)

B. No período pós exílico, a descendência davídica que retornou foi Zorobabel e a descendência aarônica que retornou foi Josué. Depois da morte de Zorobabel, não houve continuidade da descendência davídica, então o manto judicial foi passado exclusivamente para os sacerdotes (cf. I Mac. 12.6) e anciãos locais (cf. Ne 2.16; 5.7).

C. Esse papel sacerdotal nas decisões judiciais é documentado por Diodoro 40.3.4, 5 durante o período helenístico.

D. Esse papel sacerdotal no governo continuou durante o período selêucida. Josefo cita Antíoco "o Grande" III (223-187 A.C.) em Antiguidades 12.138-142.

E. Esse poder sacerdotal continuou durante o período macabeu de acordo com Antiguidades 13.10.5, 6; 13.15.5 de Josefo.

F. Durante o período romano o governador da Síria (i.e., Gabínio de 57-55 A.C.) estabeleceu cinco "Sinédrios" regionais (cf. Antiguidades 14.5.4; e Guerras 1.8.5 de Josefo), mas isso foi depois anulado por Roma (47 a.C).

G. O Sinedrio tinha um confronto político com Herodes (i.e., Antiguidades 14.9.3-5) que, em 37 a.C, retaliou e matou a maioria da alta corte (cf. Antiguidades 14.9.4; 15.1.2 de Josefo).

H. Sob os procuradores romanos (i.e., 6-66 A.D.) Josefo nos conta (cf. Antiguidades 20.200, 251) que o Sinédrio ganhou novamente considerável poder e influência (cf. Marcos 14.55). Há três julgamentos registrados no NT onde o Sinédrio, sob a liderança da família do Sumo Sacerdote, executa justiça.

1. o julgamento de Jesus (cf. Marcos 14.53-15.1; João 18.12-23, 28-32)

2. Pedro e João (cf. João Atos 4.3-6)

3. Paulo (cf. Atos 22.25-30)

I. Quando os judeus se revoltaram em 66 A.D., os romanos subseqüentemente destruíram a sociedade judaica e Jerusalém em 70 A.D. O Sinédrio foi permanentemente dissolvido, embora os fariseus em Jâmnia tentassem trazer uma suprema corte judicial (i.e., Beth Din) de volta à vida religiosa judaica (mas não civil ou política).

IV. Afiliação

A. A primeira menção bíblica de uma alta corte em Jerusalém é II Cr 19.8-11. Ela era constituída de

1. Levitas;

2. sacerdotes;

3. os cabeças das famílias (i.e., anciãos, cf. I Mac. 14.20; II Mac. 4.44).

B. Durante o período macabeu era dominado por (1) famílias dos sacerdotes saduceus e (2) a aristocracia local (cf. I Mac. 7.33; 11.23; 14.28). Depois nesse período os "escribas" (advogados mosaicos, geralmente fariseus) foram acrescentados, aparentemente pela esposa de Alexandre Janios Salomé (76-67 a.C). Diz-se ainda que ela tornou os fariseus o grupo predominante (cf. Guerras dos Judeus 1.5.2 de Josefo).

C. Até à época de Jesus a corte era constituída de

1. as famílias dos Sumos Sacerdotes

2. homens das famílias ricas locais

3. escribas (cf. Lucas 19.47)

V. Fontes Consultadas

A. Dictionary of Jesus and the Gospels [Dicionário de Jesus e os Evangelhos], IVP, pp. 728-732

B. The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible [Enciclopédia Ilustrada da Bíblia de Zodervan], vol. 5, pp. 268-273

C. The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge [A Nova Enciclopédia Schaff-Herzog de Conhecimento Religioso], vol. 10, pp. 203-204

D. The Interpreter's Dictionary of the Bible [O Dicionário do Intérprete da Bíblia], vol. 4, pp. 214-218

E. Enciclopédia Judaica, vol. 14, pp. 836-839